Pesquise no Blog "Diante do tabuleiro, a mentira e a hipocrisia não sobrevivem por muito tempo. A combinação criadora desmascara a presunção da mentira, os impiedosos fatos que culminam no mate, contradizem o hipócrita." - Emanuel Lasker - Xadrez é vida, é sorte, é azar. É jogar, se esconder, se divertir, rir, mentir, suar, matar, capturar. Com o xadrez aprendemos a ser felizes; com ele, podemos aprender a viver; ganhamos, perdemos, mas JOGAMOS; para um grande enxadrista não basta apenas JOGAR, mas é necessário GANHAR! Como Kasparov sempre dizia: o mestre só se torna um mestre a partir de mil derrotas e meia vitória, pois assim ele aprende a ter dignidade e ser capaz de ver os lances, prever os lances. Um mestre só se torna um mestre quando obtêm mil derrotas pensadas, mas ele se torna um burro quando não quer pensar e para de jogar.

Xadrez = Arte

Xadrez = Arte
"A vida é uma eterna partida de xadrez. Quando a gente não tem a iniciativa A oportunidade passa e você perde a vez."

Vídeos

Milton Matone nos envia vídeos inéditos de torneios, mestres e demais eventos de xadrez. Postados no Youtube formam uma verdadeira biblioteca visual enxadrística.
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sábado, 30 de agosto de 2008

Cortina de Fumaça parte II

Junto com as jobinianas águas de Março, o I CEAX 2006 fechou o verão deste ano, dando início à disputa pela coroa capixaba, atualmente em posse do tetracampeão e agora Mestre FIDE, Jorge Bittencourt.

Jogado no desgastante (massacrante, eu diria) ritmo de seis partidas em um fim-de-semana, duas horas nocaute para cada jogador (com rodada tripla no sábado), o torneio, por um lado, afastou muitos que preferiram não se submeter ao desgaste imposto pela maratona de jogos. Por outro lado, selecionou a nata do xadrez capixaba na corrida pelos mil reais de premiação oferecidos pela Prefeitura de Vila Velha, cidade que sediou o evento.

Jorge Bittencourt, Jorge Wilson, Rogério Zanon e Namyr de Souza Filho (só aí já são 12 títulos estaduais) tiveram de brigar por cada meio ponto não só entre si, como fazem habitualmente, mas também contra os regressos Mário Cantarino (que jogou de forma primorosa o torneio, empatando com Bittencourt e mostrando a todos que o cântaro não era de barro), Paulo César Vieira (campeão estadual em 1976), Waldir Chiesa, Sérgio Silveira, César Reis e Mozart Abelha.

Entretanto, não é de nenhum deles que venho falar hoje.

E, antes de revelar ao leitor o personagem central desta crônica, instigo-o a responder a seguinte pergunta: quem melhor representa para você o espírito do xadrez?

O russo Garry Kasparov? Quem sabe? Afinal, ele encarna como ninguém o espírito vencedor que move o enxadrista de qualquer época e lugar.

Ou o búlgaro Veselin Topalov, atual campeão do mundo e que chega à sofreguidão para extrair de uma partida o seu máximo? (Vide empate em 123 lances contra Levon Aronian pelo recente torneio de Morelia-Linares, em partida na qual todas as linhas pareciam convergir para a vitória de seu adversário, exceto na opinião do próprio Topalov).

Seja quem for o jogador que habite o coração do leitor, inclusive seja o próprio leitor, eu lhe digo: a escolha é totalmente válida! Isto porque cada momento da vida elege em nós um representante daquilo que entendemos ser, naquele momento, o ideal de um conceito ao qual nos abraçamos.

Assim é que, sem maiores esclarecimentos, pois estas crenças são verdades que se sustentam sobre si próprias, compartilho com o leitor que tenho como ídolos no xadrez não só os dois monstros que mencionei acima, e outros de igual categoria, como também jogadores sobre os quais, injustamente, jamais se escreveria uma nota sequer a respeito, não fosse a lúcida intervenção dos que tentam enxergar através da cortina de fumaça que envolve o tecido perceptível da realidade. Modestamente, é o que tento fazer, ao escrever crônicas: captar ângulos incomuns da realidade ordinária.

Não obstante, me deixo a tal ponto perpassar por esta realidade alternativa, que, verdadeiramente, os jogadores sobre os quais tenho escrito tornaram-se ídolos pessoais meus, meus gigantes internos, assim como Kasparov e Topalov.

A propósito, a surpresa que tal reconhecimento pode causar nem é originariamente minha. [O filósofo alemão Friederich] Nietzsche já dizia: “Quem contempla o abismo, pelo abismo é contemplado”.

E, contemplando uma vez mais o abismo que separa o xadrez de minha compreensão, tentando ir além da espessa cortina de fumaça a estreitar minha visão, vi emergir a figura que ora personifica para mim o espírito do xadrez: Crisolon Terto Vilas Boas.

Radicado em Minas Gerais, Crisolon esteve por terras capixabas durante a primeira etapa do CEAX 2006, e jogou o torneio!

Aos que ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo em ação, informo que Crisolon é portador de uma insuficiência visual que o leva a jogar com um pequeno tabuleiro ao lado, pelo qual, tateando as peças, enxerga o movimento que fará sobre o tabuleiro onde se desenvolve a partida. Vale dizer, tal como o anônimo cujo texto ilustra a abertura desta crônica encontrou sua verdade existencial, também na ausência da luz Crisolon busca sua verdade enxadrística.

É desta sublimação que nasce, do homem comum, reprodutor de conceitos e idéias dominantes, o homem transformador destes mesmos conceitos e idéias. Foi o que fez Kasparov durante toda a carreira. É o que faz Topalov, seu legítimo herdeiro. É o que, num plano sublimado de nossa percepção trivial, fará Crisolon nos próximos 54 lances.

Parte I