Nos dias 26 e 27 de setembro deste, ocorreu em Salvador a XVII edição da tradicional Copa Sigma de Xadrez. Ostentada pela Sigma de Relógios e este ano organizada pela Federação Baiana de Xadrez (FBX), o evento contou com a participação de mais de 90 jogadores e com convidados especiais: O MI Gerardo Lebredo (Cuba), a campeão brasileira sub-10, Katherine Vescovi, e o ex-campeão brasileiro o GM Giovanni Vescovi. Na cerimônia de apresentação o GM Vescovi comentou sobre alguns acontecimentos do meio enxadrístico e prometeu estar retornando a participar de torneios internacionais. Comentou também sua partida com o GM cubano Leinier Dominguez, motivo de interesse para muitos dos presentes (vale a pena conferir!). O MI Lebredo também comentou, entre outros temas, sobre o xadrez em Cuba. Vários nomes ilustres do xadrez baiano, como o MF Paulo Jatobá, estavam presentes e nas palavras do diretor do torneio, realmente foi uma ''festa enxadrística'', uma ''festa entre amigos''. Momento de emoção maior, sem dúvida, foi na homenagem prestada ao ilustríssimo Dr. Pedro Segundo da Costa, ícone do xadrez baiano. Nas palavras do Dr. Luís Claúdio Guimarães, muitos puderam recordar a imagem simpática e carismática de Pedro Segundo. O torneio em si, trouxe boas experiências a muitos jogadores, além de aumentar o processo de solidificação do xadrez baiano no cenário nacional. O MI Lebredo concedeu-nos uma pequena entrevista que segue abaixo.
Entrevista com o MI Gerardo Lebredo
1. Mestre, com quantos anos o senhor começou a jogar e quem o incetivou?
Comecei a jogar por volta dos 11 anos, um pouco tardio pra Cuba, incentivado por um tio.
2. Como o senhor avalia o papel da Revolução Cubana no crescimento enxadrístico de Cuba?
Fundamental. Antes da Revolução o governo não apoiava os enxadristas em eventos internacionais e nem nacionais. Depois da revolução, apareceram as primeiras escolas voltadas ao ensino do xadrez em Cuba. Além disso, tanto Fidel como Che Guevara eram admiradores do xadrez e apoiaram a realização, em 1966, de uma importante Olimpíada Internacional em Cuba. Isso em muito ajudou no desenvolvimento e crescimento do ''xadrez cubano''. Existe inclusive um fato com Fidel curioso. Fidel jogava uma partida com um mestre mexicano em um evento, e que estavam presentes entre outros, Fischer e Petrosian, que na época era o campeão mundial. E Fischer começou a ajudar, a dar dicas, ao mestre mexicano e Fidel por sua a receber dicas de Petrosian. Realmente uma pérola.
3. Cuba teve laços bem fortes com a ex-URSS tanto culturais como políticos. O xadrez em Cuba foi influenciado bastante com isso também?
Sim. Muito na verdade. Na época dois mestres soviéticos foram pra Cuba pra ensinar. Vários mestres cubanos passaram a ter apoio para disputar torneios europeus, além de intercâmbios de bibliografia enxadrística, etc.
4. Como o senhor avalia a possibilidade de uma parceria entre o ''xadrez cubano'' e o brasileiro na área educacional?
É bem interessante. Hoje existe uma competitividade boa de jogadores cubanos em torneios no Brasil e vice-versa. Inclusive um mestre cubano, conseguiu boa colocação no Continental esse ano. Poderia haver intercâmbios para novos talentos enxadrísticos, por exemplo. Crianças brasileiras conhecendo o xadrez em Cuba e crianças cubanas conhecendo o xadrez no Brasil. Sem dúvida seria uma grande experiência.
5. O senhor comentou na abertura que a mídia possui um papel muito importante na massificação enxadrística. Aqui no Brasil, infelizmente, a imprensa, na maioria das vezes, não dá muita importância aos eventos. Em Cuba é similar?
Não. Há um ótimo relacionamento com a imprensa em Cuba. Há divulgação de eventos importantes, por exemplo. É claro que não é muito, mas é considerável. O mais importante não é fazer o cidadão aprender a jogar xadrez e sim que ele saiba o que é xadrez. A partir daí as coisas fluem. E nisso a mídia tem um papel muito importante.
6. Todas as escolas cubanas possuem o xadrez na grade curricular?
Sim. Desde 1989 todas as escolas da rede pública possuem o xadrez como disciplina. A média para as crianças jogarem xadrez em Cuba é de 6 a 8 anos. E quando isso não começa em casa, é na escola. Há também projetos em escolas especiais, por exemplo, para deficientes visuais. Há o ensino do xadrez à cegas, como forma de lazer e atividade lúdica. O rendimento educacional é claramente visível.
7. Podemos dizer que nosso Pelé aqui é o Capablanca de vocês?
Sim! Apesar do xadrez não ser isoladamente a maior paixão de Cuba, tem o Beisebol, que é bem antigo também, ele compete na preferência nacional. Toda família cubana conhece xadrez, mesmo que nem todos saibam jogar, pelo menos um membro sabe. E Capablanca é uma figura muito conhecida em Cuba. Desde cedo as crianças ouvem falar dele e se inspiram em cima disso.
8. Como o senhor vê o xadrez em Cuba hoje?
Melhorando cada vez mais. Felizmente, hoje temos um ícone na elite mundial, o atual campeão do mundo de xadrez relâmpago, Leinier Dominguez, que é um incentivo aos novos mestres. Há um bom número de mestres residindo em Cuba e muitos mestres cubanos, mas que residem no exterior. Há hoje em cuba uma boa participação feminina. Temos quatro grandes mestres mulheres e uma boa tendência desse número aumentar.
Mestre, alguma consideração final?
Acho que isso é importante dizer. O sucesso do xadrez cubano está na solidariedade. Estamos bem próximos e um ajuda o outro quando precisa.
Um comentário:
Marcos, entre em contato por e-mail: clx_ba@yahoo.com.br.
Att.
Jean,
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