G.M Brasileiro quebra recordes e tem tudo para ir longe...
Por Kelly de Souza
Esqueça o elemento sorte. Assim como no tabuleiro, a bemsucedida carreira do enxadrista André Diamant é resultado de estratégia, tática e inteligência. Aos 19 anos, o jovem deu um xeque-mate nas dificuldades e passa a compor o seletíssimo grupo de esportistas com o título de Grande Mestre Internacional (GM), da Federação Internacional de Xadrez (Fide), façanha conquistada por somente outros sete brasileiros. Vencedor de importantes campeonatos, como o Paulista, o Pan-Americano e o Brasileiro Absoluto de Xadrez, diz que não para por aí: quer estar no topo com os melhores do mundo. Para isso, disposição e paciência são peças fundamentais. Entre inúmeras viagens, treino, faculdade, ele divide seu tempo com os preparativos para o breve casamento e o pequeno Isaac, o filho de oito meses. “Em algum momento da vida, achei que era louco, porque matematicamente não dava para conciliar. Agora, levo a coisa numa boa e no fundo todo mundo é louco, cada um com a sua própria loucura”, brinca. De ascendência judaica, Diamant disputa suas partidas usando o quipá, mas, no dia a dia, afirma que não dispensa o boné. “Gosto de usar em respeito à minha religião, mas as pessoas dizem que dá sorte”, descontrai.
E não foi só o vestuário característico que teve papel fundamental em seu sucesso. Depois de aprender os primeiros movimentos do tabuleiro com a irmã e o pai e de receber aulas particulares, aos 8 foi treinar no clube A Hebraíca, de São Paulo, que o assiste em sua carreira. Aos 11, recebeu o patrocínio da entidade para um estágio em São Petersburgo, na academia de Alexander Khalifman, um dos melhores enxadristas do mundo. “A ida para Rússia deu um salto em qualidade que o diferenciou de sua geração, ele passou a ter um desempenho muito superior. Apostar em um talento é sempre uma incógnita, porque a gente nunca sabe se vai chegar lá. O André realizou muito mais rápido tudo o que poderíamos desejar”, comemora José Luiz Goldfarb, então, diretor cultural do clube e padrinho do enxadrista no esporte. Nem sempre as coisas foram fáceis. Filho de pais separados, André Diamant foi morar com o pai em Jericoacoara, praia do litoral do Ceará, o que o afastou do xadrez dos 13 aos 15 anos. “Cheguei a pensar que ia parar, estava na vida boa, na praia. Mas, com 16 anos, voltei para São Paulo com o incentivo do Zé Luiz”, conta. Um ano depois, já era Mestre Internacional. Outro grande desafio foi enfrentar a falta de incentivo que o jogo recebe no Brasil. “Tenho vontade de fazer algo pelo xadrez brasileiro em comunidades carentes e levar o esporte a crianças que não têm normalmente essa oportunidade”, explica. Zé Luiz Goldfarb endossa a opinião do enxadrista e diz que para formar um campeão, além do próprio talento, é preciso financiamento e estrutura social. “O xadrez é um desafio à inteligência humana, talvez o mais abstrato, refinado em termos de lógica e raciocínio, além de instrumento eficiente para melhorar a educação”, garante.
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