Pesquise no Blog "Diante do tabuleiro, a mentira e a hipocrisia não sobrevivem por muito tempo. A combinação criadora desmascara a presunção da mentira, os impiedosos fatos que culminam no mate, contradizem o hipócrita." - Emanuel Lasker - Xadrez é vida, é sorte, é azar. É jogar, se esconder, se divertir, rir, mentir, suar, matar, capturar. Com o xadrez aprendemos a ser felizes; com ele, podemos aprender a viver; ganhamos, perdemos, mas JOGAMOS; para um grande enxadrista não basta apenas JOGAR, mas é necessário GANHAR! Como Kasparov sempre dizia: o mestre só se torna um mestre a partir de mil derrotas e meia vitória, pois assim ele aprende a ter dignidade e ser capaz de ver os lances, prever os lances. Um mestre só se torna um mestre quando obtêm mil derrotas pensadas, mas ele se torna um burro quando não quer pensar e para de jogar.

Xadrez = Arte

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"A vida é uma eterna partida de xadrez. Quando a gente não tem a iniciativa A oportunidade passa e você perde a vez."

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terça-feira, 9 de junho de 2009

"Xadrez poderia ser mais aproveitado..."

Assim refere o pedagogo Eric Augusto Piassi que critica a forma que o esporte está sendo usado dentro da sala de aula. Não é de admirar-se. Conversando com um professor Doutor em Educação, sobre a importância do xadrez como instrumento de auxílio na aprendizagem, ele teve a tolice de dizer-me que muitas pessoas hoje deixavam de jogar xadrez porque "era difícil". Ainda há restrição inclusive por parte das autoridades no assunto... Segue a entrevista fornecida ao Jornal da Cidade.

Tirar o maior proveito pedagógico possível do xadrez nas escolas. Esse é o objetivo do pedagogo, jogador e professor de xadrez Eric Augusto Piassi. Com a disputa de um mundial no currículo e uma pesquisa inédita sobre a prática e o ensino do esporte nas escolas de Bauru e região, Piassi, aos 23 anos, possui autoridade suficiente para criticar a forma que os professores estão abordando o xadrez nas escolas. “Os professores que usam o xadrez nas aulas não estão capacitados e os que estão capacitados não compreendem a noção pedagógica do jogo”, sentencia. O envolvimento de Piassi com o xadrez começou com a ajudinha do irmão mais velho, que aprendeu o esporte primeiro. A paixão, porém quase termina se não fosse a persistência da mãe de Piassi. “Eu era um garoto pobre jogando no Bauru Tênis Clube (BTC). Minha mãe chegou a vender o café que a gente tinha para beber para comprar livros de xadrez”, recorda. Hoje, ele conta que a recompensa está nos alunos que ajudou a formar. A idéia de trabalhar a pedagogia do xadrez surgiu aos 16 anos, quando estava na frente de alunos de uma 4.ª série. “O que eu vou fazer para despertar o interesse desses alunos? Mas eu não queria apenas ensinar por ensinar, eu queria que eles vivenciassem”, lembra. Atualmente, Piassi continua disputando torneios - como o Franco Motoro, da Federação Paulista de Xadrez, que conquistou com sua equipe semana passada. Ele dá aulas de xadrez na rede particular, promove competições solidárias na rede pública, desenvolve sua pesquisa e ainda passa as noites treinando. Confira os trechos da entrevista.

Jornal da Cidade
O que você constatou com sua pesquisa?
Eric Augusto Piassi – Constatei que os professores estão desperdiçando o potencial pedagógico do jogo de xadrez nas salas de aula. É igual àquelas aulas de educação física, em que o professor dá uma bola e manda as crianças jogarem futebol. Eles deixam as crianças jogando e não exploram o valor pedagógico que o xadrez possui. Eles não desenvolvem as competências com seus alunos. Eu fiz essa pesquisa em Bauru e região e acabei vendo que os professores que usam o xadrez nas aulas não estão capacitados e os que estão capacitados não compreendem a noção pedagógica.

JC - E por que isso é preocupante?
Piassi - Por um motivo: hoje o Ministério da Educação (MEC) está inserindo o xadrez em todas as escolas. Quem pode dar essas aulas? Apenas professores de educação física, segundo o ministério. E no curso de educação física, o xadrez não é uma matéria do currículo. Chegou um momento que eu percebi que alguma coisa estava errada. Estão, implantando um projeto, mas não tem um profissional adequado. Então, não tem como o projeto ir para frente. Quando vai, eles não conseguem trabalhar como deveriam.

JC - Como começou essa associação pedagógica com o jogo?
Piassi - Em São Carlos eu auxiliei um projeto de pós-graduação cujo tema era “Xadrez: possibilidades de recreação, criação e construção”. A professora, autora do projeto, não chegou a abordar as competências em que o jogo pode ajudar. Então isso me despertou para o tema. Muitos dos profissionais do xadrez de Bauru encaram o jogo como recreação, não como uma arma pedagógica. Entendem, por exemplo, como um ganha-pão. Tá certo. Tem que ganhar dinheiro também, mas tem de buscar um valor educacional nisso. Está faltando para esses profissionais um apoio e uma orientação pedagógica porque simplesmente jogar xadrez na aula não atinge o objetivo.

JC – Como o jogo de xadrez pode ser usado?
Piassi - O interessante é que o xadrez pode envolver qualquer pessoa. Temos alunos deficientes físicos, visuais que jogam xadrez. O que eu quero mostrar é que há várias formas de trabalhar com o xadrez. Conciliando à informática, eu explico até história através do xadrez. Você pode ensinar até a guerra entre o Brasil e o Paraguai usando as pecinhas do xadrez e os alunos vão entender. A mesma coisa é com geografia. Em língua portuguesa, você pode pedir aos alunos que produzam textos sobre xadrez. Assim, a gente atinge educação infantil também. Chega na hora do recreio não é aquela correria. Eu deixo o tabuleiro para eles e eles ficam jogando.

JC - E como funciona na educação infantil?
Piassi - Nós trabalhamos com crianças, temos alunos de 4 anos, por exemplo. Pode parecer que não, mas ensinar xadrez para elas é difícil. As crianças tem de aprender o movimento, mas sem perceber elas estão brincando, jogando. É lúdico. Especialistas colocaram barreiras dizendo que não é possível jogar, assimilar. Eles dizem que a criança é muito pequena. Mas não necessariamente você precisa ensinar o xadrez bruto. Você trabalha com desenhos, familiarizando a criança e incentivando o raciocínio. É isso que eu percebi. O xadrez tem de ser visto como um fator pedagógico e não como um mero jogo.

JC – Como lidar com a reação das crianças no jogo?
Piassi – Se você cria um trauma na criança, se ela perde o jogo e a outra provoca, ela nunca mais vai querer saber de xadrez. O professor tem de estar capacitado para identificar isso e saber como sanar esse problema na sala de aula, porque senão o xadrez pode passar a ser um empecilho e não mais um auxílio. As criança tem de aprender a perder e a ganhar, mas de uma forma diferente. Então você passa valores. Por isso acho que o professor tem de saber um pouco de psicologia, pedagogia, senão você cria lacuna. Tem professores que dizem que na sua sala alguns alunos não querem nem saber de xadrez. Então eu digo que não existe aluno que não gosta, existe aqueles que não pegaram o gosto pelo jogo, que os professores não despertaram isso nele. A primeira aula minha é com teatro. Eu entro cantando com violão na sala de aula, eu faço xadrez gigante, mímica. Com isso a criança, mesmo sem jogar, diz que adora xadrez. Aí você insere o jogo. Em si, o xadrez não é difícil de aprender. Se você trabalhar bem, desperta a criança para isso. A gente faz uma troca. A gente insere uma aula de xadrez e tira uma de matemática. Os alunos nem percebem a quantidade de cálculos que estão fazendo. Só para fazer uma troca de peças, no valor de três para cinco, a criança tem que saber, tem que ter atitude, escolha, porque se ela fizer um lance errado, ela perde. Então são formas de se trabalhar em salas de aula que eu acredito que devem ser desenvolvidas.

JC - A forma como o xadrez está sendo popularizado é o que preocupa?
Piassi - As escolas têm o xadrez no projeto Escola da Família; as particulares também têm porque, se a concorrência tem, ela tem de ter também. Então, todo mundo está ensinando xadrez, mas quem está ensinando não está sabendo explorar o fator pedagógico do jogo. É uma coisa que, se não parar agora, todo mundo alertar, fizer um trabalho de troca entre professores, pedagogos, então nós teremos meramente um projeto de xadrez em sala de aula.

JC – E o lado social?
Piassi - Eu faço uma associação com o programa Escola da Família. Eles me emprestam os professores aos finais de semana e eles me auxiliam nas escolas. Nós temos 180, 200 crianças jogando nos pátios das escolas públicas. A parte bonita desse projeto é que para participar dos projetos, a gente pede alimentos não perecíveis aos alunos. E depois a gente doa os alimentos para instituições. O nosso projeto é trabalhar com xadrez na parte social. Troféu e medalha a gente consegue através de patrocinadores. A cada torneio a gente arrecada meia tonelada de alimentos e é tudo doado. As escolas particulares, que eram convidadas, mas não participavam, criaram uma outra copa. Mas está tendo um fim social? Está tendo uma ajuda no xadrez bauruense? Isso precisa ser sanado, poderíamos organizar um seminário, um congresso, um simpósio para todos os professores de xadrez serem capacitados, saber o momento de se usar a psicologia, estarem preparados e trabalhar para a formação verdadeira do educando. E não transformar o xadrez numa ferramenta de marketing.

JC - Quais são os planos futuros?
Piassi – Para ser professor de xadrez, tem de ser jogador primeiro. Eu tenho um planejamento para cada aula. Eu não estou na sala de aula só por estar. Cada aula que eu preparo tem um objetivo específico, uma metodologia. Eu vou ensinar os movimentos do xadrez, finalizações, mas junto, cidadania, ludicidade. E eu vou acumular essa minha experiência de jogador nacional e internacional, reunir com a pedagógica e, se Deus quiser, escrever um livro: ‘Metodologia do ensino de xadrez’, que era sobre o ensino do jogo de xadrez, voltado para os professores. E não tá longe. Eu já tenho umas 70 páginas escritas. Eu faço uma comparação do valor pedagógico de cada aula para cada matéria. É com essa proposta que eu quero chegar ao doutorado.

JC – Nesses nove anos de ensino, teve algum caso que te marcou?
Piassi – Um alunos de São Carlos, que não enxergava. A minha maior alegria foi quando ele jogou uma partida em um campeonato. Ele tateia as peças num tabuleiro pequeno, fala um lance e a pessoa faz o lance para ele. E antes ele era uma pessoa desmotivada e depois do xadrez ele passou a querer viver a vida. Alguns antigos alunos hoje são professores comigo e isso também me emociona.

JC – Como está o xadrez em Bauru?
Piassi – Onde tem xadrez em Bauru? Na Luso e no BTC, onde quem vai é classe média-alta. As crianças de periferia não têm dinheiro nem para pegar um ônibus. Quer dizer, isso não é um xadrez para todos. O certo seria montar lá no Jaraguá, lá na Vila Dutra, em todos os lugares ter escolinhas. Aí sim você teria a popularização do xadrez. Tentamos modificar essa visão em Bauru. Bauru está deixando os profissionais de lado. Hoje eu represento Jaú. Ano que vem pretendo jogar por São Carlos ou São Bernardo do Campo. Mas em Bauru está acontecendo isso.

Fonte primária: www.folharegional.com.br
Fonte secundária: www.ajaxclube.com.br

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